TEÇO MEUS FESTIVAIS
Eu gosto de costurar histórias.
Risco o traçado, dou um nó na ponta da linha, para não escapar ponto
das trabalhadas memórias.
Como fazem as agulhas, vou perfurando o tecido e, em cada furo, a linha passa,
serpenteando minuciosamente aquilo que conto.
Não abandono um retalho, sequer,
porque, às vezes, é a parte mais bonita ou está no retalho a graça.
Depois de emendadas as partes, recorto o que sobra e remalho, chuleio bem as bordas, com delicadeza .
Tento não deixar palavra perdida, tampouco me esqueço do que me ensinou a vida,
cubro o claro das brancas nuvens em ponto-cruz, porém prefiro o ponto-atrás
que me dá , passo a passo, coordenação a palavrório ponteado e seguido, sem ficar feio, embora nem tão correto.
Costuradas todas elas, histórias desde criança até aqui,
abandonadas as aflições, narro tristezas com boca risonha, mazelas
e fios bem coloridos nos botões do que sobrou de meada feliz ou enfadonha.
Assim teço meus festivais, historiando a vida,
pinto e bordo, arremato com dedais,
costurando à mão as palavras desta lida.
Dalva Molina Mansano
10:31
18.08.2015