Alvéolo

Enquanto era menina não conhecerá nada mais protetor que o colo de sua mãe. Mas com o salto alto, o batom carmim, o esmalte vermelho e o corpo de mulher, vieram novos problemas, e o colo antes tão protetor já não abrigava mais seus medos. Como medida paliativa para o que não podia ser controlado, ela passou a engessar os sentimentos, colocar armadura nas emoções, amordaçar os cinco sentidos e mais um que inventara, por não se encaixar nos cinco que tinha, com medo de sentir dor. Mas tudo vinha de seu interior com tamanha força que era impossível barrar a avalanche de sentimentos que acabava sempre por atingi-la, sem nenhum aviso meteorológico prévio. Ás vezes essa colisão involuntária causava-lhe apenas pequenos arranhões, outras vezes o choque rasgava-lhe a pele alva, rompia tendões e músculos, dilacera a carne, deixando as vísceras sanguinolentas pulsando expostas. Assustada se recolhia em seu casulo protetor, e ali ficava tecendo poesia nas horas, até que a metamorfose fatalmente acontecesse. (Edna Frigato)

Edna Frigato
Enviado por Edna Frigato em 17/08/2015
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