Tarde de 26 de abril de 2015

(com esse bagulho que é o barulho)

O silêncio pega pelo pé; por isso sempre estou em companhia da música;

Tomei gosto por expor o que ouço ao escrever... É um toque, é um tique, é uma marca.

Agora escuto “Poles Apart” do Pink Floyd, e com ela rabisco algumas ideias.

O barulho, no ar, solto, solta minha alma. Mas tem que ser um bom barulho – o meu barulho –, e não precisa ser alto.

Se não houver música volto-me ao barulho dos pássaros ou das ondas ou dos latidos ou dos gemidos ou da leitura que imerge no silêncio de todos os sons.

Sou flexível aos sons naturais e sou extremamente austero aos sons do homem; chego a ser o chato que beira o caricato; chego a ser um pouco incoerente, pois sou o moderno de fones no ouvido que saem de um aparelho minúsculo com mais de duas mil músicas de outro século.

Mentira! Há sons novos no repertório... Bem poucos, mas há.

Saindo do assunto: esse bagulho que faz um “barulho” bizarro que voa sem direção e aterrissa sem hora marcada; que toca no coração e na alma e (muitos dizem) na inspiração; que acende e queima em um cigarro ou em um cachimbo, sem ou com ritmo... E faz estrago, ou não – dá barato, ou não –, custa caro, ou não – pode custar vidas e causar mortes, ou não –, mas sempre cria muita polêmica e discussão.

Mas é outro assunto, para outro dia, outra estação.

Voltando ao assunto: peguei carona na leitura alheia que bateu na veia e tirou à teia e atiçou a aranha a fazer outra, futuramente.

Os versos me saem famintos e querem mergulhar no branco da folha ou na tela alva do computador, quiçá na orelha da amada, arrepiando a nuca e os braços, ou simplesmente ser falada ao vazio do ar.

Esqueço que os meus versos querem navegar (mas metaforicamente) – pelo menos os meus; todos os meus escritos, versos e até desenhos voam (mas metaforicamente²), pois na verdade saem em um veleiro, em um barco atraente (mas metaforicamente³); às vezes pega um mar de calmaria marmórea, sem brisa, sem onda, só aves que soltam sons baixíssimos e passam famintos dando mergulhos certeiros. Saem com aquele peixinho no bico e o sorriso implícito.

Mas outras vezes é um mar agitado, assombroso, terrível, com uma bela ilha ao fundo e um sol acanhado que aguardam a chegada das letras.

Ando lendo muito (além do corriqueiro) e nesse período estou devorando: “Confesso que vivi”, o livro de uma amiga e Ana Hatherly... Fora as leituras digitais e de notícias.

Acho que engessei um pouco a mão (apesar de estar há meses mergulhado em duetos com um grande poeta e amigo) e desengessei meu tempo comigo mesmo: estou orando mais (do meu jeito insano) e tentando aumentar minha constância na meditação; há tempos mudei de maneira drástica minha alimentação, focando o natural e comendo peixe e frutos do mar seis dias da semana; tem um ano e meio que venho correndo todos os dias (para ter direito a um dia de folga), sem escolher dias ou criar normas e horários, apenas o próprio tempo da corrida.

O silêncio agora será quebrado pelo fim de tarde que chega e meu mergulho na piscina, uma cerveja sem álcool e um bom filme. Vamos atualizar os minutos, vamos fazer diminuta essa noite que chega rasgando – despedaçando meu tempo que foi devidamente aproveitado nesse domingo acabado, nesse sol que se foi...

Amanhã já é nova semana e nova incidência da inspiração.

André Anlub