A rua
O poeta conduz-me por uma rua florida, com flores de ipês-do-cerrado caídas sobre o chão. Não há outras pessoas fora nós dois. Sou levada pelo colorido amarelo espalhado na terra. Todo meu pensamento respira o vento que leva as pétalas a vários pontos da paisagem. Fecho meus olhos plenos de lembranças, onde a que surge mais intensamente é uma menina no pátio da escola animada pelas flores de um pé de ipê no primeiro dia de aula. Meu coração tem um impulso de sentimentos nostálgicos, que julgo que vou chorar.
A rua é larga: uma espécie de praça com alguns bancos de madeira. Um detalhe me chama a atenção – o poeta está no mesmo lugar em que me deixou. Eu dei vários passos indo de uma árvore à outra, todavia ele permaneceu parado no meio da rua.
Olho-o e o interrogo:
_ Há algo errado?
_ Pelo contrário. Tudo está como deve ser.
Movo-me devagar sem entender. Uma sensação de que eu estou sozinha me atinge. Não posso negar que eu mesmo não sei explicar como cheguei até aquele local. E se eu estivesse louca? Meu pulso acelera. A respiração fica pesada. Não posso aceitar que estou num raro momento de sonho bom. Seria isso? Suspiro de alívio. Mas o papel me cai no chão... Uma fotografia de uma rua. Presente de um poeta de Minas Gerais.
Por um instante sorrio e, depois, olho a fotografia novamente: meus pensamentos acertaram quanto à beleza do lugar. Realmente é um excelente lugar para se estar em companhia de um poeta.