O PERFUME MAIS ALÉM

Nos poetas sessentões esta é marca tatuada: frutos tardios do saudosismo. Não enganamos a mais ninguém: já não cozinhamos na primeira fervura para dar bom caldo... Bem, exageros à parte, a Poesia vai dourando a pílula do viver. E assim sorrimos tal uma criança que ri à toa a qualquer movimento frente aos olhos, quando o poema regurgita airoso e grácil. É isto mesmo: sempre nasce uma rosa em nossas pupilas bastardas de rumores, o fumo em nuvens do que é passadiço e perfumes gastos. Mesmo que tenhamos dificuldade de ver as pétalas como antigamente, é urgente estar com o olor do Belo na ponta do olfato. Amanhã, de inopino, poderá nascer o dia sem que ocorra o comando nervoso dos cheiros. Para alguns, talvez o poema seja o único perfume que irá mais além...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5340940