A Tônica de seu nome

Nada existe pra você aqui, ou pra ninguém.

Estamos mortos e não fomos avisados.

Senti sua falta hoje, como fiz em tantos outros momentos de solidão. Apaguei a dor com a fumaça de um cigarro cruelmente real e honesto.

Enquanto fumava, lembrei de como você odiava meu cheiro e meu desprezo. Odiava também minha sensibilidade e a maneira como ela fazia tudo ser detestável para mim.

Eu não te culpo, meu amor, nem mesmo agora.

Eu evito os lugares que amamos juntos. Já não sei mais os nomes daquelas coisas mágicas que nos foram tão sagradas. Esqueci-me dos encantos de nosso idioma particular.

Será que você ainda se lembra de nossa insanidade?

Honestamente, não sinto falta de nossas palavras e de nossos silêncios. Você odiava nossa quietude tanto quanto eu a amava e isso quase destruiu a nós dois.

Sempre que tenho sede lembro de seu gosto. De teu suor e do rubro inferno que era te tocar com medo de te partir.

Acendo outro cigarro e o beijo com o carinho que outrora dediquei a tua boca. Sinto a amargura do filtro se espalhando por minha garganta e minha língua sibila a tônica de seu nome.

Sinto sua falta uma vez mais.

Quando decidi que era hora de partir, eu imaginei que passaria por isso. Você é a maior de minhas falhas, querida, mas não é a primeira.

Devus
Enviado por Devus em 26/07/2015
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