Palavras no ar
Nada me empolgaria mais do que ouvir da boca daquele rapaz que ele me amava muito. E ele disse. Repetiu. Falou no meu ouvido de novo e de novo e ainda assim eu não acreditei, mas começava a querer acreditar.
Estava me preparando a todo momento para o maldito rompimento, para a dor, para as lágrimas.
E então para o poço escuro e profundo dos meus lamentos, do álcool rasgando minha garganta sedenta por sofrimento.
Até parece que eu queria muito isso.
Quando finalmente aconteceu, quando ele não deu notícias e se silenciou e quando não teve coragem sequer de dizer que para ele era demais, eu já não me sentia tão bem preparada para ouvir isso ou deixar que o silêncio ditasse os caminhos que seguiríamos separadamente.
Quando finalmente percebi que eu me iludi novamente e acreditei em algo que não poderia se concretizar, um novo/velho sonho de amor e amizade eternos e de um futuro ditado pela dedicação e pelo companheirismo, já era tarde. Já estava chorando.
As lágrimas cortam minha face.
Minha boca se contorce em um esgar de sentimentos confusos e frustrados, em um quase grito de dor, contido e sufocado e inaudível e que explodia ainda assim na minha alma.
Não que eu gostasse de sofrer. Mas talvez sim. Ou talvez achasse necessário. Ou talvez, talvez, achasse simplesmente inevitável.
A dor e a perda e o sentimento de que fiz algo errado ou que tentei algo que já não deveria tentar mais... Ser feliz com alguém.
A casa vazia e ampla está tão fria. Tão branca. Tão tristemente quieta. Nada de risos, ou brigas ou discussões sobre o cardápio do almoço.
Me sinto pendurada à beira de um abismo, balançando, trêmula... Querendo me jogar, querendo me salvar. Devo simplesmente levar minhas mãos aos olhos e chorar?
As lágrimas não são suficientes para levar embora tanta dor. E nem é a dor da perda que me dilacera, mas a dor da certeza de que meu destino é solitário e irremediavelmente amargo.
Ouvir tantas vezes ele me dizer que me amava e não ter coragem de responder... Não porque eu não o amasse ou não quisesse amá-lo, mas porque seria só algo a mais para nos envergonhar...
Palavras de amor ditas, levadas por uma lufada de razão...
Até que enfim posso voltar a dormir e trabalhar em paz. Não tenho amor para cuidar. Não tenho que responder mais a quem quero amar, mas sei que não me amará...
Sigo... Sem palavras no ar.