Foram dias amargos, frios, distantes. A cada sorriso, um leve gelo no estômago, um dilatado soco na costela, diversos ossos quebrados de fratura exposta. A cada lágrima, a amputação de um membro, sensação de ter cada fio de cabelo arrancado com pinça e a língua cortada ao meio com uma faca, lentamente e sem anestesia. As palavras proferidas ao vento soaram como se eu estivesse presa dentro de um sino tocando, como se a cacofonia de um dragão estivesse grudada no pé da orelha ou pior, como se a cada sílaba dita, um pedaço do meu coração fosse arrancado, com o dedo, de tão forte e intensa que era a dor daqueles dias. Horas que pareciam não ter fim. Minha garganta doía, contraia, quase que não se passava o ar que respirava, quase não passava a saliva misturada às lágrimas, a voz já não sabia proferir. Era momento de branco total ou breu total, era hora de pensar, repensar, talvez. Hora de olhar para si, entender que o vazio daquele momento era culpa da quase extinção do amor e vitória da raiva e angústia dos dias comuns e difíceis. Momento mais do que certo de voltar para a realidade com a compaixão, o respeito e o mais importante o amor, que estava preso, desesperado para sair e se mostrar, mas o domínio da falta de tempo de sentir predominava.

Rayssa Êvang
Enviado por Rayssa Êvang em 20/07/2015
Reeditado em 27/07/2015
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