Epitáfio

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Andei às cegas construindo, reconstruindo e tentando dar a forma aos castelos de areia. Me perdi nesse objeto de querer. Tombei o peito nas águas que arranhavam a minha pele. Deitei estranha entre os vãos dos ares, mas sabendo que suas asas, apesar de fragilizadas, deviam alçar o voo em breve; como foi triste saber-te pássaro que não retornava.

À beira de um oceano ainda me vejo posta a auscultar os marulhos angustiantes das gaivotas aflitas junto aos mares querendo voltar, mas o peso molhado de suas penas afundam-na como num subterfúgio de enxergar realidades. _ O cardume no seu trajeto de mancha avermelhada, não se sabe se de sangue ou se de pejo, além dos olhos avermelhados se despediam da cena.

Num lance, num segundo, num átrio atroz dentro do peito, as compotas num regozijo de felicidade embriagada; num coração tão turvo e machucado. Num lance, num átimo, num momento em que suas asas apontaram no infinito - descobri ingênua, que você retornava. E por um momento a lucidez de saber-me que jamais construiria outros castelos, dando lugar a tantas asas. Um epitáfio.

[Titãs - Epitáfio]

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 20/07/2015
Código do texto: T5317146
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