PALAVRA NO BICO DE PÁSSAROS
Nem sei dizer do sentir amoroso, do gáudio de quem vive há mais de 42 anos às voltas com o pensar poético e a palavra solta de inquietos alter egos, no bico de pássaro-cantor. A Poesia revive-me todos os dias e aquece os neurônios, porque falar em coração é dispensável – por máquina necessária ao sentir-se vivo. A flor poética abre-se e viceja dentro do “cuore” de pessoas com os mais variegados timbres de sensibilidade e de concepção do mundo. Em mim, em contrição dadivosa, derrama-se o orvalho inocente de palavra e também, por vezes, exultam exigentes sabedorias frutificadas de suas vivências. E que mesmo sem a presença física no plano da realidade, produzem e ofertam a mim o mel da confraternidade. Desta sorte eu os concebo amantes da estética cotidiana, dos cochichos pejados de confissões e fraternos de mínimas verdades – tidas e havidas – que também lhes fazem mais densamente humanos e à disposição do Bem e do Mal. Só nos resta, neste perfil e horizonte, ajoelharmo-nos em oração ao Absoluto. E deixar que a natureza nos enseje o canto – traduzindo o Belo.
– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5312861