Eu

Você não me deixou quebrar a casa, quebrar toda a parede e o teto, e ver o céu chegar rápido, por cima de mim. Você preferiu temer as ruas. Eu só queria ver o céu. Você preferiu se torturar, por tradições que roubam a sua vida. Eu queria ir bem mais longe, visitar o escuro da mata. Você não me deixou abrir as portas, no meio da madrugada. Você me pediu cautela, disse que era preciso não correr. Eu queria andar por cima dos pregos e me destruir, para me reerguer e me juntar do outro lado do abismo. Você queria apenas se encolher e se humilhar, para pagar dívidas que nunca foram suas, para ampliar dúvidas e mais dúvidas sufocantes, desnecessárias. Você preferiu esmorecer. Eu sempre quis te dispensar, desde que você me agarrou por entre essas suas presas cortantes, pesando sobre mim, com uma força inconstante, porém eterna, que ninguém mais poderia ter sobre mim, a não ser você, esse meu eu, que me dilacera inteiro, por dentro de mim.