Breve biografia de ninguém que habita o corpo de alguém
Lágrimas escorrendo sobre a face pálida de aspecto cansado era o maior sinal de que não dava mais. O poço transbordara. Ela já não aguentava mais aquela dualidade que cercava sua vida. Confusão, indecisões e até mesmo raiva faziam-na irritar-se e esse conjunto de emoções não são do tipo que costumam fazer bem. Depois de tanto tempo ela precisou transbordar. Era o poço que estava se enchendo há muito tempo da água que os outros colocavam. Mais eles do que ela mesma. Se perguntava se estava vivendo ou apenas sobrevivendo e aquela era uma questão difícil. Ou seria simples demais? Uma hora sabia que queria isto, outra hora estava certa de que queria aquilo e, no fim das contas, percebeu que querendo tudo acabava não querendo nada. Sonhadora, acredita que as pessoas são boas e também más, mas são as circunstâncias que decidem qual dos lados vai se manifestar primeiro e com mais intensidade. Talvez nem dê tempo de escolher. Deseja ser feliz, no fim das contas, sem palpites alheios, fazendo tudo do seu jeito, pois sabe que em algum momento haverá de acertar. Seu maior desejo é saber o que se passa dentro de si mesma, apesar de saber que dificilmente isso acontecerá. Acontece que ela sempre quer mais. Mais tempo, mais saúde, mais amor, mais atenção, mas, menos complicação. Sabe que a vida é mais simples do que parece, mas as pessoas a tornam mais difícil numa tentativa de deixar mais fácil. “É culpa da política”, pensa, mas odeia discutir opiniões. Sabe que no fim das contas essa confusão toda que faz dentro de si não a levará a lugar algum. Espera que o futuro seja generoso e que seus sonhos se concretizem. Acredita que uma vida sem sonho não é vida de verdade, que sonhar é uma dádiva e que por isso deve fazê-lo com intensidade. Afinal, todo mundo vive em busca da tão falada felicidade. Se ela existe ou não... quem sabe? Sabe-se apenas o que dizem por aí “viva intensamente” e ouvi dizer que quem faz isso não se arrepende.