A dançarina russa
O olhar da dançarina russa ficou comigo. Ela olhava para o nada, parada. E o seu olhar ficou comigo. Eu vi o seu olhar. E era tudo o que eu queria ter visto.
Fui tragado, assim, por essa comunhão mística. Nunca mais o meu coração bateria normalmente. Nunca mais outra visão distrairia a minha mente. Pois seu olhar foi um ninho que surgiu sem que eu mais esperasse descanso. Parecia o fim de uma longa caminhada, de décadas; podendo, então, respirar melhor. O seu olhar foi o meu paraíso na Terra.
Agora eu ando pelas ruas, agora, eu sigo o meu caminho, com a certeza de que aquele olhar existiu. E mesmo órfão dele. Mesmo que ela tenha desaparecido. Ou que não tenha jamais existido. Os seus olhos virão comigo. Ainda que seja agora inverno. Ainda que não haja mais nada para ser ou para sentir. Ele é a minha pequenina vela, que ilumina o meu sono escuro, nesse mundo de fantasmas.