Texto gagaista
Preciso me libertar, mas não, não agora. Tenho o estômago em piruetas -- inda hei de parir um alien -- como que negando ao corpo o alimento. Assim foi e sempre será. A insônia persiste; é necessário findar este dia por completo. Resisti até aqui, proque não esperar mais uma aurora? As nâuseas aumentando, só o fato de nelas pensar atiça-lhes a fúria. Chego a sentir o sabor gorduroso dos bem-casados, comidos na véspera, insígneas de alguma felicidade alheia; talvez por isso meu corpo os rejeite. Hoje não há fogos de artifício que justifiquem minha insônia e nem motocicletas acelerando... Preciso mesmo é me libertar, regurgitar todo o conteúdo gástrico, escrever coisas sem sentido, perdoar minhas lembranças. Bem, isso vai ficar para outra ocasião, por hora gestarei o meu alien, esperarei o amanhecer.
Suspensão...
E quando eu parir o meu alien pô-lo-ei num andor, ornamentado com guirlandas de sempre-vivas; dele quererão saber e a ele virão. Ah! será nesse exato dia que arrancarei minha língua -- sempre me foi pesada, áspera, inapta para o discurso -- e deitá-la-ei aos magos e feiticeiros para que façam poções homeopáticas, contra gagueira, incontinência verbal, voz estridente, verborragia crônica e aguda e etcetera. Num glorioso dia de sábado haverão de carregar o meu alien aos ombros e ele falará por mim, todos hão de ouví-lo; e ele carregará minhas jóias -- feitas de pérolas irregulares -- e onstentará um estandarte bordado com corujas. E o sol nunca mais parará de brilhar, porque será sábado todos os dias da semana, e o crepúsculo nunca chegará, e coisas velhas não mais precisarão renascer, e o sofrimento não mais será tolerado: nem em figura e nem no corpo físico.