DESCONEXOS

Tento aplacar meu cansaço
Deito-me sob o leito seco da dura terra e coloco minha cabeça na ponta rugosa dos seus seios- as pedras;
Afago a sua pele argilosa como uma mãe afaga um filho,
Meto-me em tuas fendas e me misturo aos seixos, observo a noite deitado em  teu corpo;  observo o céu e  os luzeiros que piscam distante  em torno do clarão prata que cintila para além da sua borda,

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Penso como colcha de retalhos, em fuxicos mal alinhavados;
Como numa trama de contrários, teço tudo e nada ao mesmo tempo;
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Trago em mim um diamante duro envolto numa argila mole;
Meu corpo padece de realidades, meu coração de verdades,
me alma de sopro!

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Lesmas pedintesa a bichorocar em burancos esconsos;
Me dá nervos de morte!

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Fico contente em governar a minha ilha de Patmos
Atravessar desertos ermos, em busca de um apocalipse qualquer;
Sentir o coração trepidar como um terremoto
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Minha gata negra toda noite passa por cima do teclado preto fosco com letras brancas pintadas na superfície lisa de plástico
sobe até a janela
Senta na soleira
Contempla a noite assustada como uma gazela
nas madrugadas a fio;
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Lá fora corre um vento solto e suave
Em mim derrete-se sentimentos como as geleiras do ártico;
Soçobrou da noite um vazio absoluto;
Diz o Quixote " é da abundância do coração que fala a língua"
Digo O QUE ME RESTA É A LÍNGUA - ESTILETE DA IRA;
onde estão as palavras QUE SE ESCONDEm  NO VELUDO DO CÉU DA BOCA!

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A inquietude do dia é substituída por uma pax noturna misteriosa;
A paz dos cemitérios, dos homens que nada anseiam, somente ao nada de si mesmos;
 
Labareda
Enviado por Labareda em 08/07/2015
Reeditado em 27/02/2017
Código do texto: T5303522
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