Proletariado Subversivo

Sob a luz do meu fracasso novamente

Eu tento respirar sozinho solenemente

Debruçado neste travesseiro sujo

Eu tento me agarrar a tudo

Que acredito ingenuamente.

Eu fui humano

E criei laços num mundo robótico

E fui expulso pelo diabo

Por não respeitar as regras de boas condutas das trevas.

Entre papéis brancos e canetas

Ao som de melodias tristes

Eu tento reagir

E talvez não adoeça.

Eu ainda insisto em resistir

Conduta minha de alguma promessa que fiz?

De não me render enquanto não desconstruir tudo que está destruído?

Eu sempre serei um excluído

Eu sempre serei banido

Num mundo corporativo os afetos são congelados

As risadas são de papel

A alegria é de plástico.

Eu pago o preço de ser fiel ao que acredito

De ser um proletariado subversivo

Porque de bons afetos eu sobrevivo

E sou livre para chorar e dizer o que digo.

No mundo do trabalho formal

A prostituição é legal

Eu vendo o meu ego

Os meus horários de descanso

Meus momentos com os meus filhos

Minha dignidade como ser humano

Para manter o meu carro do ano,

O terapeuta da minha mulher

Que já não amo e nem a vejo

O meu status entre amigos que não são verdadeiros.

Eu enxergo o mundo através do meu próprio umbigo.

Eu deixo a tristeza me tomar

Eu deixo a melancolia entrar

Eu sei que aindo sigo os meus próprios passos

Eu sou o dono do meu destino.

Eu quero deixar a revolta por onde passar

E de volta aos meus lençóis velhos

Eu construirei novos planos

A fim de continuar minha revolução sagrada de cada dia

Seguindo cada desejo de construir um novo lugar.

Debruço-me sobre estes tormentos intermitentes

Eles não irão me vencer

Nem me vender como um produto débil qualquer

Eu ainda sangro,

Transpiro e sinto.

Sinto as dores dos que já estão mortos

Mas vivos em minha memória

Dia após dia eu honro as lutas dos que aqui venceram

A escravidão, a inquisição

O antissemitismo, a secundarização.

Dia após dia eu luto contra a prostituição da ação

Contra o vazio do pensamento e da emoção

Fugindo do nosso fascismo de cada dia

Tão banal e assustador

Como filmes de terror e ação.

Eu fujo desta condição

Eu desligo a televisão

Eu não quero próteses de conhecimentos

Nem revistas de modas e dietas

Eu quero é livros e emoção vertical

Eu sou o meu patrão.

Talvez seja este o meu castigo

Não deixar enterrar o passado sangrento e triste

De todos os meus amigos

Que lutaram para me dar o pouco que tenho.

Eu carrego o passado para desmontar o presente

E construir outro futuro

Talvez eu não encontre razão nisso tudo

Mas não terei vivido em vão.

Talvez eu esteja criando todos os dias

Um chão cheio de dignidade e auto-respeito

Exercendo o amor onde não é permitido

Sim,

Eu sou um rebelde sem cura

Que cria empatia entre apatias

Porque os bons afetos são revolucionários.

Talvez este seja o meu único caminho.