Musas inquietantes - I
É laranja e longe. Longe, muito longe, muito, muito. Há uma tábua donde se pode ver a divisão. Uma? Duas. Há uma cabeça de manequim lisa, completamente lisa, vermelha - tão intensa que contrasta com o laranja do fundo -, marcada por duas linhas pretas que se cruzam num Xis embaraçado, confuso.
Do lado esquerdo se vê que é azul com brancos fofos e arredondados preenchendo esparso o que se pode ver. Há uma estátua de pé, mas de costas ela está, contemplando acima, talvez o alto, de onde se pode averiguar tudo isso. Está de pé, ou apóia uma das pernas sobre uma pequena caixa, a qual aparece inversa a como deveria figurar na percepção correta.
No centro, sobre as duas tábuas, um plano arquitetônico em papel velho, amarelado, preso a uma mesa de desenho sem pés, caída, desleixada, sobre elas.
Vagando pelos andares suntuosos de Montparnasse; o trem ainda não saiu.