Todo o tempo dizemos adeus
Todo o tempo dizemos adeus, meu amor, e o fim se faz princípio do que andamos a desconstruir pelos caminhos atados de nós. Estamos a povoar o deserto do silêncio com a substância das palavras não ditas, com a mais noturna substância da saudade fecunda de desejos profusos. Todo o tempo dizemos adeus, meu amor, prestes a retirar o lacre que fere os lábios de negativas, abrir a porta em fúria e entrar como quem sabe de cor o gosto do mel que o desejo fabrica na pele. Todo o tempo dizemos adeus, meu amor, enquanto descambas no horizonte como sol pranteando a noite, como sussurro do vento marulhando encostas, enquanto me esqueces e me sondas e tua boca morde minha cobiça de ti, enquanto emudeces e a noite cai. Todo o tempo dizemos adeus, meu amor, e toco teu corpo com a ternura dos para sempre amantes, e beijo teu rosto com o sobressalto da volta, então recomeçamos o aceno, e guardo todos os teus gestos mudos em todas as palavras que me tocam e em todas que se perdem ao teu encontro, porque somos o tempo do adeus que não buscamos repousando na fronte de um futuro vencido pelo amor que sem querer plantamos em nós.