Teus olhos -Meu espelho

Poucas vezes a vi chorar, e das vezes que vi, era um choro mudo. As lágrimas eram tão silenciosas quanto as dores que ela trazia consigo...

Com o passar dos anos, o semblante austero foi dando lugar a um olhar cansado, impossível não notar alguns tons de tristeza nas paredes daquele olhar. Ainda assim ela mantinha a aparência de uma casca impenetrável. Uma muralha que protegia os "preciosos" cacos dos vasos que os dissabores quebraram e que nem sempre o tempo é capaz de restaurar. "Tesouros" íntimos protegidos por suas auto defesas.

Acho que o sofrimento nos obriga a isso: Blindarmo-nos para que nenhuma dor mais possa entrar. Talvez seja esse um dos motivos para que eu a ame tanto e tão incondicionalmente. Eu via suas dores, sabia que estavam lá: Guardadas em seus silêncios, aprisionadas nos calabouços da sua alma. Mas não sentia-me capaz e nem no direito de tocá-las. Ela, de alguma forma, havia trancado-se com elas. Calou o que lhe doía e também o que, talvez, pudesse faze-la sorrir. Nada mais entrava e muito pouco saia. Muito além desse pouco me foi dado. Só eu sabia, só eu sei o quanto de amor havia ali dentro. Pena ela tentar enclausura-lo. Mas era essa a sua maneira de não acumular mais dores. Entendo-a!!

Às vezes, posso sentir um perfume sutil, um cheiro de alegria em seu sorriso acanhado. Ou, talvez, eu apenas precise acreditar que sim, que há algo mais, algo além da dor que insiste em morar naqueles olhos.

A verdade é que eu sei, e ela também sabe, com a certeza que o amor é capaz de nos dar, que a dureza em seus atos, a aridez de algumas de suas palavras são ecos das vozes do medo, medo de mais uma vez doar-se e justamente por doar-se, doer-se.

S.A.C - Sheila Castro

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Sheila Castro
Enviado por Sheila Castro em 27/06/2015
Reeditado em 27/06/2015
Código do texto: T5291226
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