ESTAÇÕES MÍTICAS

Um rosto quase infantil perdido no espelho. Vivências que não se encontram na superfície. Fechei os olhos e me despedi no breu de um pensamento desbotado. Agarrei-me ao silêncio para fortalecer meus galhos e lancei ao vento as palavras amadurecidas. Como folhas secas que se perdem num chão de outono, perdi o horizonte no oceano dos sonhos derramados.

Quando abri os olhos, um prato vazio sustentava a mesa, a alegria das refeições estava maculada na louça suja. Não havia música ou perfume... Deixei-me guiar pela sombra e encontrei um beijo perdido, uma intenção que não se realizou...

Abandonei as crenças. O amor estalou num passo em falso e já não preenchia meus sentimentos. Com asas falsas busquei o sol e encontrei um abismo desconhecido. Sem cobranças, interiorizei a culpa, aceitei os prenúncios das estações e permaneci acovardada em minha nudez. Quase retorcida, sobrevivi ao frio das noites sombreadas sem definir a escuridão de um céu privado de estrelas.

Congelei encasulada com algumas lembranças. Perdi a memória... Mas uma lágrima me libertou do inverno e anunciou o primeiro botão da primavera. Quase embriagada, ressuscitei.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 22/09/2005
Reeditado em 23/09/2005
Código do texto: T52878