DESGENTAMENTO ABERTO

 
 
No dia que amanheci sem estrela, decide deixar de ser gente. É assim quando se resolve ser sem destino em estado desgentado. Onde assim quando resolvo que escolho estar de quase tudo, até repolho grávido de gente. Mas principalmente prefiro ficar somente de semente. Dessas sementes que brotam em aves raras que vem e vão lá de Papua-Nova Guiné. Dessas que desfilam e abanam o rabo no carvaval de Manaus. Eu semente gesto pedras feitas de esferas de éter, onde desde Stagira desanda caminhando Aristóteles desde o sempre que brigou com o Platão. Porque esse um dia, mesmo sem querer, é sal no dia que tem lua e lágrima na noite que tem sol. Ás vezes me faço confusão, olho no espelho que em lugar de semente mostra um carrinho de bebê caindo num buraco sem fundo. Para isso evitar aquilo eu me arborizo em palavras sem letras e sem coisas, e que suportam o peso texto, mesmo sem contexto. Sou semente que quem pronuncia com palavras difíceis, que são gestadas na barriga das pedras etéreas lá de São Tomé das Letras, um tempo que desexiste bem no meio imaginário de terras sem males e Ayacucho. Feito e apareço feito São Sumé que vai e vem até até o Reino do Sião, que teima em existir nesse transágua fingidador de ser mar-oceano. De vez em onde se esconde em ser de dúvida na parte da Bíblia que nunca foi escrita porque não foi lida. Tem um pedaço dela ainda não escrito feito dentro do Mar Morto antes dele existir de estar vivo. Então tomo tino de nascer seguindo o sabor do vento agarrado na cauda de Zéfiro, e sigo os passos aéreos de Quetzalcoatl, que foi morar num ponto fixo que é todo o mar que fica a leste de Tampico, lá perto dos Estados Unidos que não são Canadá nem Bruzundangas da Sbórnia. Um Valalha para é vivo e tem preguiça de ser guerra. Nasço de um umbigo, enquanto meu irmão, o Gargantua, menos enganado de ser semente, nasce da orelha de outro mãe e de outra pai, um de cada vez, já que encubado foi nos testículos de Pantagruel que nasce grande veste mil bois e em Paris mija vinho matando mulheres criancas do baixo das torres de Notre Dame do Quasímodo que engravida freiras quando não para de pensar só para pensar de ser estado de lógica tomista. Meu umbigo-vagina era ser de ficar grudado numa palavra que nunca entendeu de ser ser de palavra dita, escrita, pronunciada, ideada, imaginada, pensada, defecada por gato persa que perdeu o nariz lá em Londres. Palavra de coisa feita gente. Por isso, e isso é muito claro para mim, sou palavra gentil que nunca chutou nada, nem pé de vento. Qualquer dúvida pergunte folheando com os olhos da mão as páginas feitas de ar e escritas com tintas feitas de sangue de anjos crastatti analfabetos o Dicionário de Palavras Absurdos que nunca foi escrito pelo Jorge Luís Borges enquando Manoel Rosas por o sul do Rio Colorado de terra, sal, emas e guanacos depois do Rio Orenoco até Rio Galegos onde Kirshner mentiu pela primeira vez seguindo os passos de esposa que um teve sonho premonitário de ter estado de ser Evita Péron que nasceu da língua de La Malinche e dos cabelos de Pocahontas tatarenetas de Iracema que foi inventada por abelhas e tinha medo de ser comida por ursos lá no meio do Brasil tanto era de ser medo de ler com a testa os livros feitos de neve escritos com álcool por Jack London antes dele começar a pensar ser de lobo. Se for dado de estar de acordo, como sonhava sentado o Franklin D. Roosevelt quando as armas ainda nem pensavam em sonhar de estado ser querendo guerra e os ventos borboleteados ressecavam e fazia terra, ar, água, fogo em tempestade de areia lá no miolo das bandas de Oklohoma, se for assim de acordo me acorde enfiado palavras e coisas em meus dois ouvidos esquerdos, que são os dois escutam melhor essas coisas de desencatamento de palavras e coisas do estado de vigília o mesmo quando não viveu pensar o Dostoievsky de fazer as contas que corria para a bala mandada existir por um czar qualquer Romanoff passando então a ser perdão que não morre porque come batata misturada com Vodka lá onde não é neve do lado fora de dentro da Sibéria. Então guarda uma semente que sou em estado fora de gente no bolsao furado de um capote costurado sem querer por Pushkin com a sem intenção de entrar na cabeça de uma cobra cascavel que nasceu antes de qualquer dinossauro que desapareceu no meio do palheiro disfarçado de agulha desde o então resolvi não nascer fora de deserto quando encontro Cabeza de Vaca enlouquecido por aquilo que ainda não era Paraguai lá no Arizona entre mundo que era Arizona e coisa que é Chihuhaua num deserto morando na cabeça que penso ser de cobra onde quem tá dentro sem pensa em palavra peyot até pensar deixar de ser viagem lendo Carlos Carlos Castañeda que ficou riso de tando não dizer a verdade ao contrário do que insistiu de não ser o Eduardo Galeano quando abriu suas veias como se fossem continente onde não existe o Uruguai fazendo o Rio do Sul sempre acabar no mar então me desencobrei e voei com pés que pensam que são areia quando o deserto desistiu de não ter chuva para cair no chão em estado de desgentamento e brotar feito planta sufocada de um deixou de ser num viveiro da Monsanto destruído pelo MST que não quer que corporação se intrometa em situação de transgentamento...
Eu nesse amanhecimento de desgentar me faço coisa sem palavra que perdeu o sentido. E assim, para encetar eu mastigo de ser e poder falar com lápis e dedos o que bem entender. Porque sou de ser sonho sem mundo que tenha semente de sentido. Pois eu semente me universalizo a ponto de não deixar para os outros nem pra mim.



 
Convido quem quiser que escreva coisas de palavras que não podem existir depois das reticências. Só valem coisas impossíveis, oníricas, pode inventar palavras, transmutar sentido de verbos substantivos, adjetivos... o ideal é a falta de contexto das palavras e das situações. Vale escrever o que venha à cabeça. O ideal é escrever durante o sono. Basta comentar que eu anexo. Eu sempre estarei emendando coisas até o dia em que o mundo me obrigar sem gente de novo. Não precisa de sentido, mas ter que ter aparência significativa.