LUTO OFICIAL
Apaguem as velas do morto!
Ele não virou santo, não subiu aos céus ou galgou estrelas. A morte o surpreendeu de repente como um golpe de vento. Sem tempo, seu relógio parou com os ponteiros sobrepostos.
Abram as janelas!
Não respirem falsos milagres ou sintam pena de um ser que nunca esteve perto. Sem alma, o corpo exposto se disfarça nos olhos cerrados, enquanto seu espectro assombra e reacende as chagas não cicatrizadas das carpideiras.
Desnudem os espelhos!
Descubram o luto continuado, façam uma colcha de retalhos com o que sobrar dos negros véus. Não há mais motivos para chorar. No cenário, iluminam o falso pesar... Nos bastidores, os interpretes doloridos prendem-se no medo e na culpa da condenação de sobreviver e não poder contracenar com a autoridade dos mortos.
Apaguem as velas do morto! Abandonem a platéia da farsa!