Entreabrindo fúrias...
Chegaste em formato de nuvens, em tons de cinza, prenúncio de vendaval, cobrindo a vida em raios, cortando os céus revoltos, sombreando a manhã, entreabrindo fúrias em contorcidos véus e rasgando espaços numa estranha mistura de gazes.
Vieste o próprio temporal.
Alma do vento rodopiando folhas da ansiedade, sacudindo as flores da saudade e acariciando esta face a te esperar, pedindo e sonhando, assustando escuros e distribuindo luz, protegendo carinhos por entre minhas ilusões.
Quando vi teus olhos na tempestade a se aproximar, senti-me trêmula ante as trovoadas, tornei-me instantes, recolhi relâmpagos e te escondi num momento de emoção.
Aspirei teu cheiro de terra na gota que caía, caindo e exalando perfumes que foste desenhando e que inspiram uma eterna canção por ti.
E pintaste a tela celeste em ouro riscada pelos espaços de luzes
que se descortinaram e se desencontraram, por entre as grisalhas nuvens que mostravam a tua imensidão, aos poucos se estendendo como fogos aos milhares pela natureza e vindo aquecer este meu frio.
Não estás mais...
Espia, agora, este saudoso coração.
Não o perturba, deixa-o que fique no contraste de seu silêncio com os sons lá fora ecoando: ele está apenas te guardando.
Não vou devolver-te ao mundo.
É em ti que resgato e envolvo meu mundo e me encontro nos teus encontros em meio às tempestades.