A FESTA DOS SENTIDOS

Segundo sinto e concebo, a intuição criativa surge caldeada nas emoções, traduzida em sua peculiar linguagem. O texto ou o poema nascem, especialmente no lirismo amoroso, engolfado de desejos insatisfeitos e alguns rarefeitos gozos. Traduzem-se ao natural, a "vol d'oiseuaux", tal um beija-flor bicando a corola floral. A ideia exprime suas falas em cantos e sons nem sempre bem expressos ou em sua melhor audição. Os signos verbais exsudam-se pelos poros. Quase sempre este não é dotado da beleza mais primorosa, mas é essencial à garatuja emocional que se vai lavrando com um rastro de inquietudes. A emoção produz a palavra candente, frutificada no caldeirão de fogo da ideação. No poeta que sabe de seu ofício e cuida de sua imagem, a emoção congemina-se ao estado inicial. Num segundo momento, a ideação vai traduzir-se mais próxima ao Belo, que é o cânone estético que tornará factível o Novo. Então o poema estará vestido para a festa dos sentidos. De pronto, sempre haverá alguém que disputará a valsa inicial. Possuir a palavra é desejo na cabeça de muitos. E lá se vão os signos dançarinos, pedindo espaço de entendimento e confraternidade. Bem como convém ao sopro da criação literária. Onde estão os meus sapatos para a dança pioneira?

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5279070