Momentos

***

A chuva surrava impiedosa a terra desprendendo os olores telúricos; momento de satisfazer quaisquer grãos que por ventura adormecidos; sairiam brotando folhinhas no dia seguinte. Fez-se lama no quintal, fez-se até vendaval e do morro as entranhas das matas e das árvores retorcidas deslizavam com as águas do céu...

Na vidraça brotavam também os suores onde as gotículas estremeciam pelo lado de fora e por dentro o embaçamento de uma alternância de quente e frio. Ela encostou a boca no vidro e fez um bafinho bem de perto... e desenhou com o seu 'dedografite' dois corações: Alguém que por ventura amasse ou amaria; alguém que por venturia surgiria... e o dela; desabrigado e só.

A noite avizinhava-se bem mais fria que os seus pés gelados. A chuva já tinha dado trégua mas destacava-se no horizonte uma noite avermelhada. Num tom rosáceo e lilás. Aproveitou para sentir na sua própria solidão as cores que jamais coloriu. Voltou-se para a vidraça e desenhou agora com o batom mais dois corações: O dele, que por ventura amasse ou amaria; alguém que por ventura surgiria... e o dela; desabrigado e só.

De repente ouviu três batidas na porta. Olhou pela janelinha do meio e lá estava o moço com as roupas molhadas pedindo abrigo.

Da parte dela restou apenas um pedido: - Um beijo dele para poder chorar.

Sting - Fragile

(https://youtu.be/lB6a-iD6ZOY?list=PLs_foHKW3RNn-LvBeKV02XX9jD7Ok-HGO)

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Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 10/06/2015
Reeditado em 10/06/2015
Código do texto: T5272238
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