Amor, Solidão e Bifes Batidos

A mãe, com os olhos vermelhos de tanto chorar, bate os bifes sozinha na cozinha. Martela a carne com a mesma intensidade que as perguntas a sua mente insistem em martelar. Sente falta do que tinha, sente falta da esperança, sente falta de tentar. Não entende mais o tortuoso e estranho caminho que sua família resolveu trilhar.

A carne já está achatada e as lágrimas continuam a lavar o seu rosto. Ela bate os bifes com força, e sente na boca o amargor do desgosto. O marido não está em casa e ela não sabe nem se ele irá chegar para assumir o seu posto... A quem ela quer enganar? Ele não aparece desde a primeira semana de Agosto.

A gravata que lhe apertava o pescoço agora repousa amassada no armário. Os dias passam correndo e já não há mais caneta a riscar calendário. Que diferença faz as horas quando a espera já não tem mais sentido? O beijo que tocou seu rosto da última vez ainda estala no ouvido.

O filho que brincava feliz agora é isolado e sente um ódio profundo. Não conversa, não olha e não escuta e, quando perguntam, ele se finge de mudo. Não lhe contam onde foi o pai, e ele não sabe porque sempre lhe escondem tudo. Se não faz diferença o que pensa, então ele pensa que se foda o mundo.

Os bifes já estão batidos e a mãe, abatida, ainda tenta entender. Onde foi que ela errou? Onde está o deslize? O que fez sua família esse fim merecer? Se brigou, se gritou, procurava encontrar nas palavras uma solução. Mas agora percebe, com os olhos vermelhos, que o esforço da luta pela felicidade foi, infelizmente, um esforço em vão.

E então, sozinha na cozinha, coloca de lado o martelo sujo de carne. A hora em que chora mais alto é a hora que a porta, sem aviso, se abre. O marido, carregando as malas, traz consigo um rosto igualmente abatido. Ele chora, larga as malas e deságua, sem fim, um discurso sofrido e completamente arrependido.

A mãe, com os olhos vermelhos, coloca um dedo nos lábios para o marido calar. Com as mãos ainda sujas o abraça em um abraço que quase o faz sufocar. O filho, pela fresta da porta, assiste a cena quase sem entender. Mas não há explicação no mundo que pudesse, naquele momento, o que ele sentia descrever.

Os pais, abraçados, entendem agora em silêncio que o amor é mais forte que qualquer discussão. Não é preciso perder tempo com rancor quando se sabe que é só amor que faz bem pro coração.

A mãe, o pai e o filho agora jantam, sorrindo, os bifes que haviam sido batidos com tristeza na imensa solidão. Mas eles agora têm gosto de vitória, de conquista.

Eles têm, agora, gosto de união.