O pródigo

Chega um tempo em que se quer gritar, mas o grito não pode sair. Chega um tempo em que se quer estar perto, mas na verdade é fácil a distância. E existem tempos de querer descobrir os erros, mas eles foram tantos que não podem ser contados. Há tempos em que os joelhos se dobram entregando as forças, mas vencendo a batalha. E ainda existem outros tempos em que se declara vitória mesmo não vendo as armas com que guerrear.

E era num destes tempos, ou em todos, que me encontrava, ou ainda me encontro, quando decidi escrever estas linhas penosas que hão de fazer ecoar meu grito... Estas linhas que começam tristes e querem terminar em regozijo, estas silenciosas linhas que querem soar como trombetas anunciando a volta... junto aos santos.

E dentre tantos alegres cantos me encanto e quero voltar. Entre tantos sorrisos, abraços e afetos, tristonho, quero voltar. E ser mais um entre tantos embriagados. Embriagados de amor, de paz, de vinho novo... Inebriados de glória, formosura, sabedoria, riqueza... impregnados de humanidade, mas eu sou desumano e muito sóbrio,

covarde e cauteloso, racional e irracional...

Eu reluto em voltar minha face ao passado, não obscuro nem sombrio, mas o passado cheio de luz e... faltam-me palavras pra expressar o passado e só me atormentam lembranças do melhor... Mas não volto, já tentei, mas, não consigo...

No entanto quero, e por isso me expresso... (...) Paro e peço ajuda, pois “a prece é a escada de Jacó” é ela que nos eleva aos céus e nos liga ao Eterno, e é por Ele que escrevo, não diria que escrevo para Ele, mas sim p’ra mim: outra vez preciso me entender.

E, agora, ao longe posso ver braços (infiltrei-me na história), embora abertos, em calma... Braços eternos, ternos braços que hão de me dar abraços, e já não reluto em voltar, mas existe algo mais forte que me segura e não me deixa. É algo obscuro, e creio que esteve no Éden, na traição e estará no lago de fogo. Porém quero voltar. Ao longe posso ver braços que me atraem... me chamam... me levam..., mas estão tão longe... e não sei se tenho forças pra chegar.

(...) preciso, e por isso o faço, parar e buscar ajuda nestes braços, pois serão eles mesmos que me conduzirão a si. Não entendo toda esta questão de distância e proximidade que andam a caminhar juntas... Mas meus olhos vêem os braços... e já consigo ver de quem são os braços, mas ainda não tenho forças pra voltar...

E o mundo gira, a vida corre... (...)

Passaram-se alguns dias desde que vi os braços. Eis que novamente os vejo, e vejo de um modo como que não vejo, mas sei que vejo. Já que vejo e sinto, embora longe, (não posso entender distância e a proximidade) volto.

- Eis-me aqui!

-

Nada ouço, mas vejo os braços e ouço, talvez no coração, uma voz me chamando a si...

- Eu vou...

(...)

É tão bom sentir abraços, ter o anel no dedo, degustar o novo vinho, comer do melhor: o maná.