Com ternura
De novo a manhã cinza, frio bom, café e a minha massa de papel. Faço nascer a criatura, outra bailarina, obesa, alegre e leve, parece que flutua no ar. Quero que tenha olhos de candura e compaixão e que traga alegria. Para tornar o dia amarelo, inundo a casa de Alceu Valença, Moraes Moreira, Milton. Às vezes, faço de conta que é verão e deixo que a música do nordeste se espalhe e uma coisa infinitamente boa brota do chão. Depois, Mercedes, encanta ouvir Mercedes Sosa quando está frio, as canções de protesto, nossos gritos calados na garganta, nossas utopias ingênuas e tão distantes...
Mais um cafezinho, minha bailarina gorda e delicada descansa sobre a mesa, parece ensaiar secretamente algum passo de dança. Na paz da manhã, vamos, então, eu e ela, agradecendo o dia de criação.
Beijo a todos!