FOI ASSIM*
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Ali estava.
Inteiramente coberto pela poeira da estrada, longa estrada.
Eu fiquei boquiaberta porque, afinal, não esperava que ainda existisse.
As pessoas não partem sem deixar suas coisas.
Estão todas espalhadas por aí, são marcas que ficam. Marcas.
O sol avisava o meio-dia e o calor era algo de sufocante, abrasador. Quase não se respirava na rua, entre os que passavam e apenas corriam rumo ao que nem sabem mais...
Aqui dentro, aquele rosto vestido de tristeza e cansaço.
A sala inteira convergia para os olhos escuros e tristes.
Toda a luz, a pouco que havia, procurava por eles, ansiosa em tornar-lhes mais brilhantes.
De nada adiantou. O cansaço acinzentava, trazia nuvens ao céu de dentro da sala antiga.
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Ali estava.
E o silêncio sufocava mais do que o calor que vinha da rua, do sol do meio-dia, do verão insuportável e tenso.
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Cheirava a tempo.
Cheira a terra.
Cheirava a vida vivida, que curtira o couro mais forte...aquele que não se detém e não se definha por nada.
Cheirava a estrada e a poeira engrossava o silêncio que comprimia e restringia o espaço.
Aquela sala jamais parecera tão pequena!
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Um minuto depois os olhos se fecharam.
Carecia de descanso.
Deixei que dormisse a dor, a vida cumprida e comprida.
Deixei que repousasse a dura perda de tudo já haver deixado lá fora.
Com o calor insuportável, que, mais tarde, seria ameno como seus olhos, quando voltassem a se abrir.
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Jamais o meio-dia me pareceu tão longo.
Jamais o tempo parou por tanto tempo,
a tempo de ver tamanha dor traduzida na poeira sobre os olhos castanhos, escuros.
Os olhos que se fecharam para tornar suportável a minha tristeza em vê-lo tão nada, tão pequeno, tão envelhecido,
a minha dor em ver tão desperdiçados seus sonhos.
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Foi assim que eu o vi, depois de tantos anos...
Aglaé*Gil
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23:18 13/6/2007