SINTA-XE
As palavras fogem de mim, como se meus músculos estivessem enrijecidos ao cansaço, um sorriso que vê apenas silêncio. Nas ruas gritei, fui cor e luz, mas hoje a música toca e não sente; a cor pinta, mas não vive; os olhos brilham, mas são lágrimas. Os sonhos engavetaram com gosto na boca de um café amargo.
O que faço aqui escrevendo palavras bobas em um diário de bordo, onde a bússola leva apenas a rotas trançadas em retalhos?
-Há muito trabalho a fazer, volte a si.
Será se estou em mim? Não me deixe virar horas, nunca gostei de relógio, apesar de estar usando um.
Deite aqui, vamos observar as nuvens, deixa a tv de lado um pouco, preciso respirar o que sobrou de mim.
A poesia acabou, o vento embaraçou as palavras, a poeira ensurdeceu meus olhos, a sinta-xe desavessou-me o paladar.
Peço-te, apenas o acaso.