Orvalho

Olha pela janela e vê, bordada com as primeiras luzes, uma manhã que desperta de seu sono. A primavera, nesses dias, tem presenteado a natureza de tantas matizes que o quintal é uma paisagem que absorve a atenção do seu enfraquecido olhar, mesclado de admiração e melancolia.

E ele olha, absorto..., o pensamento, entre duas realidades: o cenário florido que toca sua alma sensível e uma penumbra de saudade que se confunde aos raios mornos do sol.

Como sempre faz, convida o dia e sua claridade a entrar pela porta que abre, e sai em seu passeio, a brisa fresca a lhe roçar o espírito e o rosto...

"Quanto tempo se passou desde que ele foi embora!..."

A face, moldada pelos traços, ainda suaves, de sexagenário, já não esboça a alegria de outros tempos.

Sozinho, caminha agora sobre o tapete verde do quintal. A seu lado acompanham-no as lembranças de dias passados em que ambos, felizes, ali andavam, em outras manhãs. Falavam do futuro, da construção dos sonhos, de novos horizontes.

Na casa, que acordara a pouco, o café fumega na mesa posta e o cheiro, convidativo, quase o desperta do devaneio triste. No macio gramado, que acolhe seus passos cansados, o orvalho mistura-se às lágrimas choradas pelo filho que a cruel guerra levou.

29/05/2015 (minha primeira prosa poética)