Câmaras I e II

I

ora...ora hora pós hora, hórus meu olho te olha farol noturno de mares e meus presságios de memória te molham, salgados. punho cerrado nos ares resistindo à névoa. Tem que a lua é clara e o olfato na pupila é língua que reabre a chaga? É luta limpa amarga? É chama que cura porque ama e é água doce e hálito-fôlego de inventar voragens na utopia do palato gago? (Tô falando grego, quem dera, claro!)

***

II

a noite vem com seu bafo de hades no rosto e eu desanelo anéis em saturno, derreto navalha da noite muda e acaricio minha nudez que vejo na unha entre os dedos com ardor e congruência (nem sei o que dizer), eu vejo a música rota feita de pavores parvos terrores como um disco arranhado na ponta de uma tênue agulha, longínquos pombos corvos parados me olham obtusos em prédios desativados. Sei que cresce o poema feito de sangue e golpe, de luminâncias do interior da casa e dos joelhos arrebentando portas e encontrando aos flancos a mandíbula e a rótula lato insensato ordinário, escapole o fôlego-hálito escapulário caindo no buraco lírico da palavra. Me escapole algo - a vida é parca?-, o tempo da alga é pouco e da água-viva curto.

Rio de Janeiro, 2013.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 26/05/2015
Reeditado em 27/05/2015
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