ENCANTAMENTO
Mal costume é o riso que à boca aflora quando a porta se abre
e teu corpo invade meu dia e se desvia de mim, diante dos meus olhos admirados.
Mal costume é a sensação de aperto que inflama o espaço entre o peito e o estômago, quando meu olhar procura o teu feito ímã, e por instantes fico surda ao que se passa no entorno, mergulhada num mundo paralelo cujo limite se perde sob teus pés ligeiros.
Mal costume é acordar e catar tua imagem nos arquivos, pra acalmar minha saudade estranha e silenciosa.
Mal costume é captar o som da tua voz e desejar em segredo que mil palavras mais tenhas a me dizer, e que não tenhas pressa alguma em partir, e que sorrias só de vez em quando pra que eu não me distraia com a fogueira dos teus olhos e caia no abismo de tua boca.
Não me peças trégua. Eu não saberia por onde começar.
Não me impeças de caminhar na tua direção. Não há outro lugar aonde eu queira chegar.
Quero o bom costume de te ver brilhando, estrela viva, em carne, osso e leveza, tuas costas arqueadas, o pescoço rijo aprumado, andar estonteante, quadris que dançam sem se dar conta, neste corpo que desponta e deseja, predador e presa, pássaro assustado, coração em chamas, minha criança, minha princesa.