"E TUDO CONTINUOU NA MESMA"
O escrevente entrou na Prefeitura com a boa nova:
uma coluna militar passaria pelo vilarejo. O Prefeito
inteirou-se prontamente e logo tomou providências.
Mobilizada, a população tratou de limpar as ruas, os boeiros,
pintaram as casas encardidas, cortaram o capim que avançava
na entrada da cidadela.O sino da capela, orgulho do povoado
foi polido, como se limpando-o, pudesse soar mais claro e
alto. A torre do campanário que mal se equilibrava, foi limpa
e os pombos foram afastados.Na escola infantil a professora
tratou de preparar as bandeirolas que seriam agitadas.O
Prefeito mandou lavar o terno, arrumou uma gravata colorida
que seriam usados à entrada dos militares.Mandou pintar uma
grande placa com uma suástica que demonstraria a adesão
à causa nazista.Aguardaram ansiosamente a chegada do
batalhão. Chegado o grande dia, a população reuniu-se na
pequena praça, enquanto o prefeito relia o discurso de
saudação com palavras elogiosas aos invasores.
A ansiedade era tamanha e ouviram ao longe o barulho dos
carros de guerra que se aproximavam.Cada vez mais forte,
o barulho foi aumentando.Depois..., perceberam que o barulho
diminuía.O capitão do batalhão por um momento parece que
ouviu um leve rumor de um sino, moveu levemente a cabeça
para a direção do vale e logo voltou a seus pensamentos, a
revisar as ordens que deveriam ser cumpridas.
E o povo da cidadezinha manteve-se calado e decepcionado
com o pouco caso que receberam. Talvez a presença dos
invasores representasse para eles a oportunidade de um
reencontro com seus destinos.