Egoísmo é...
Meu avô morreu ontem. Hoje, tenho vontade de chorar.
Mas não é por ele. Muito pelo contrário, estou até feliz e aliviada, pois sei que ele, agora, está livre do sofrimento e do martírio. Choro por mim mesma. Tenho sim, saudades; sei que nunca mais verei na minha frente o homem que me ajudou a crescer, me ensinou tanta coisa. Mas ainda não é esse o sentimento terrível que me assola.
Não estou sentindo firmeza em minhas próprias palavras, compreende?
Apenas solidão amargurada, guardada, contida que, em tantos anos, venho aprisionando em minha mente. Não me importei com o velório. Não me incomodou ver meu avô deitado no sofá, esperando o terno de madeira que o levaria para seu descanso sepulcral. Nada disso. Estou sentindo, pela primeira vez em tanto tempo, bater à minha porta sentimentos que pensei ter jogado fora. Achei que a frieza de meu coração maltratado compensaria e expulsaria todas as dores e mágoas que venho presenciando. Mas, hoje, descobri que aquela frieza que eu tanto ostentava, apenas escondia minha fragilidade, apenas escondia minha alma e a mim mesma do monstro terrível de dentes pontudos que me tornei ao longo dos tempos.
Egoísmo é isso. Minha mãe, assolada, inconsolável ao lado do caixão e eu aqui em casa, ouvindo música eletrônica. Fazer o que? Cada um se preocupa com si mesmo. O resto que se foda.