Caminha-se...
Caminha-se em uma direção, não se sabe o por quê, mas há um impulso que nos leva por ali...
Às vezes por trilhas, sendas, terra batida, asfalto, areia, pedras, mangues... sente-se calor e frio... às vezes se vai por litoral ou serra, ares ou mares...
Alguns caminhos são áridos, outros floridos... noutros amplidão de vale, a visão vai ao longe... e alguns são estritos e escarpados.
Em certos momentos os passos desenham círculos, em outros, esticadas retas.
Quando se apercebe o único companheiro é o ermo mudo, mortificante... em outro instante, aconchego de sorriso de bicho e de gente.
Ao longo há estalagens que oferecem calefação, outras servem solidão...
Uma vez encontrei João e ele me inquiriu:
" " "E agora, José?
Seus joelhos dobraram, a aguardente acabou, a fonte secou, sua energia se foi...
E agora, José?
O caminho findou?" " "
Não o respondi com palavras, mas com um olhar nitente tal qual um clarão...
Em meu peito uma voz sempre clamou: "levanta e caminha, não existe o próximo passo sem o primeiro, cair e levantar faz parte da jornada".
Consola saber que até o derradeiro encontro nada é definitivo, que tudo chega e se vai... que a vida se arranja... que a distância aproxima...
O que é a partida senão o outro lado da chegada?
Os sonhos anunciavam algo, mas não se compreendia... enigmático...
Até que houve a revelação: sempre a procurei, mas não sabia o que você fazia ou onde habitava, como era o seu rosto, a sua voz, o seu hálito...
No dia dezoito do terceiro mês, o engenhoso destino claudicou e, até termos noção do que se passava, nossos corpos se aproveitaram da oportunidade e buliram um no outro... e se deram um ao outro.
Nossos códigos, antes indecifráveis, se combinaram e todas as portas e janelas se abriram... luz entrou... arejou...
Hoje, ao seu lado, todas as possibilidades se ofertam.
Elevo a fronte e sorrio, pois neste caminhar não estou mais sozinho...
(Prosa inspirada na poesia "Indícios" da escritora "Marlene Toledo")