O passeio
Hoje o dia amanheceu chove não chove e o único raio de sol que iluminou o dia foi lembrar que ao cair da tarde eu iria ver o teu sorriso mais uma vez – meu coração grita – eu não deveria devanear, não deveria sequer te encontrar, não deveria querer te ver. Mas eu quero. Sabe garoto misterioso, um final de tarde nublado e frio nunca mais será o mesmo depois de hoje. Aqueles pequenos prédios de tijolos e aquele estacionamento não serão mais os mesmos. A avenida da praia não será a mesma e sabe o motivo? As poucas horas em que eu vi o teu sorriso em todos estes lugares enquanto conversávamos e eu tentava não deixar que você ou nossos amigos percebessem que meus olhos brilhavam mais a cada palavra ou gesto teu. E cada vez que eu percorrer esses caminhos ou me sentar naquela lanchonete, meu coração irá se lembrar de uma noite bonita e chuvosa. E embora eu saiba que você não vai ler estar carta, gosto de imaginar que você um dia irá ler tudo isso, sentado comigo num sofá quentinho tomando uma xícara de chocolate quente e que vai rir e dizer “mas não aconteceu nada demais naquela noite” (se é que você irá lembrar-se disso dentro de alguns anos) e nessa minha realidade alternativa onde os anos se encarregam de nos juntar eu irei dizer “Aconteceu sim. Naquela noite eu deixei você derrubar os últimos pedaços da barreira que me protegia quando aceitei tua carona para casa, tua companhia em um passeio e teu sorriso de menino levado e inocente”.
(Da série “Devaneios tirados do fundo de uma gaveta” – escrito em algum dia de agosto de 2013)