Prenúncio de prazer
Chega, aproxima-te por onde me denuncio em ti. Meu corpo ainda despe as palavras em silêncio por onde tombam nossas vestes até nossos corpos derramarem-se de ausência e som, abeira-te a mim até que o silêncio transcenda por onde o amor grita e a voz do tempo abrande a tua sede de partidas e a nau errante abocanhe a lua até ser rio. Quase posso tocar teu rosto e então torno a encontrar-te em todos os lugares por onde me detenho a procurar uma réstia de luz, por sobre as pontes da cidade enevoada de infinito e a cinza prata do mar em murmúrio. E és tu quem meus olhos percorrem lentamente a perscrutar segredos no repouso da fúria de tua solidão e o cansaço do teu medo em punho, porque foras tu que habitaras a primeira palavra nua vertida em poesia a emergir de todas as coisas minhas. Agora vem, inclina teus olhos de maré vazante por sobre o silêncio meu e recolhe o vocábulo do amor das nossas entranhas entrelaçadas até que nossos lábios murmurem oceano e o suor da tua fronte seja fonte de prenúncio de prazer.