Tempo inclemente

Tenho impressão que me apaixonei por uma entidade cósmica

de massa incalculável, tal minha atração por ela.

Tal a distorção que causa, no tempo e no espaço.

Não sei o que acontece, mas quando estou com ela, tempo nenhum parece ser suficiente.

As horas passam de forma diferente, num ritmo que não entendo.

As vezes, mesmo distante, sinto-a comigo.

Minha vida parece um retalho, picotado e remendado. Um filme mal feito onde as cenas de nossos encontros são espaçados por horas e horas de fatos cotidianos desnecessários e tediosos.

Tenho essa impressão, que quase me incomoda quando ela está longe. Mas quando está comigo nada disso existe.

Tudo que existe é o cheiro dela e os arrepios que me causa quando me beija o pescoço.

Só existe a pele dela, mais quente que o normal. E sua expressão levemente irritada quando bagunço seus cabelos.

Só existe seu gosto em meus lábios e o peso do seu corpo sobre o meu.

Também existem as brigas... angustiantes... e o medo que ela vá embora.

medo do vazio que se seguiria e ocuparia minha existência, frente ao espaço que já é dela em minha cabeça.

Medo de nossas palavras sem acerto, que insistimos em trocar quando discordamos de algo.

Medo do medo dela. Medo que ela procure a saída mais fácil, como tantas outras já fizeram.

Medo que ela simplifique tudo e fuja.

E as vezes o medo parece maior o do que eu mesmo... mas nunca maior do que ela...

Quando a tenho comigo não existe nada, além de nós dois.

Além de nossos corpos, orbitando em torno de um ponto comum

num encontro que podia ser eterno,

se não existisse o tempo, inclemente

que teima em nos separar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 05/05/2015
Código do texto: T5232160
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