poema de quem não lê jornal
Eu realmente tenho da saber as histórias de papel higiênico
Da real política da terra de Santa Cruz
Tenho de ler cada palavra suja e sangrenta
De terras não muito distantes
Daqui
Tenho de analisar as retas dos gráficos
Diagramas de Venn
E uma gama de intempéries estatísticas
Que gritam:
És burra e és cega
- concordo.
Sou burra e cega pelas mãos de vós
E Pelas mãos de vós minha voz se enrouquece
De pavor da ignorância
"Você sabia?"
Não, eu não sabia.
"Você já leu?"
Não, eu não li.
Tudo o que eu podia eu fiz
Não sujei o mundo
Não violei pessoas
Nem fiz cara feia
Disse as palavras mágicas
E distribui sorrisos e flores
Vocês sabiam? Não?
Vocês fizeram? Não?
Vive-se o cortiço e vive-se
Urinetown
Respira-se mijo e mija-se óleo
Enquanto na bolsalândia
Come-se gente
"Fulano de tal e fulano de til
Investigados por x
Ainda em andamento
Processo parado devido a"
"Cicrano de tal morto em
Tiro perdido
Fogo
Lista e passo-a-passo da mais nova dieta detox"
"Casamento de Bil e Bal
Termino de Xiu e Xau
Nascimento de
Atraso nas entregas
Juros correção monetária preço do pastel
Novo processo aberto"
Nas lousas
Um alimento pobre
Nos prédios e bares, gente
Vazia em todos os lugares.
(O céu sabe do chacoalho do chão
O mar sabe do galope do vento
E tudo avisa: pelo amor de vós, parem
Mas céu e mar e chão e vento sobreviverão
Para assistir cada reta e diagrama
Nos engolir por inteiro
[Ao vivo]
E nem darem a descarga)