poema de quem não lê jornal

Eu realmente tenho da saber as histórias de papel higiênico

Da real política da terra de Santa Cruz

Tenho de ler cada palavra suja e sangrenta

De terras não muito distantes

Daqui

Tenho de analisar as retas dos gráficos

Diagramas de Venn

E uma gama de intempéries estatísticas

Que gritam:

És burra e és cega

- concordo.

Sou burra e cega pelas mãos de vós

E Pelas mãos de vós minha voz se enrouquece

De pavor da ignorância

"Você sabia?"

Não, eu não sabia.

"Você já leu?"

Não, eu não li.

Tudo o que eu podia eu fiz

Não sujei o mundo

Não violei pessoas

Nem fiz cara feia

Disse as palavras mágicas

E distribui sorrisos e flores

Vocês sabiam? Não?

Vocês fizeram? Não?

Vive-se o cortiço e vive-se

Urinetown

Respira-se mijo e mija-se óleo

Enquanto na bolsalândia

Come-se gente

"Fulano de tal e fulano de til

Investigados por x

Ainda em andamento

Processo parado devido a"

"Cicrano de tal morto em

Tiro perdido

Fogo

Lista e passo-a-passo da mais nova dieta detox"

"Casamento de Bil e Bal

Termino de Xiu e Xau

Nascimento de

Atraso nas entregas

Juros correção monetária preço do pastel

Novo processo aberto"

Nas lousas

Um alimento pobre

Nos prédios e bares, gente

Vazia em todos os lugares.

(O céu sabe do chacoalho do chão

O mar sabe do galope do vento

E tudo avisa: pelo amor de vós, parem

Mas céu e mar e chão e vento sobreviverão

Para assistir cada reta e diagrama

Nos engolir por inteiro

[Ao vivo]

E nem darem a descarga)

Isabella Narcizo
Enviado por Isabella Narcizo em 05/05/2015
Código do texto: T5231448
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