Engaiolados
Dostoyevesky em: "Os Irmãos Karamazov" estava correto. Quem disse que somos livres? Queremos voar alto na vida, no entanto, tememos as imprevisibilidades do cotidiano.
Acostumamo-nos ao que é perene. A dúvida imposta pela incerteza do amanhã nos tira a capacidade de alçar novos voos. Queremos bater asas, mas preferimos o apoio desconfortável para os pés que se encontram nas gaiolas de nossas vidas.
Com o passar do tempo se acostuma. O pássaro esquece como é voar. Seus dedos ganham o formato do puleiro e a visão não consegue se lançar além das grades da gaiola.
Nós? Somos iguais. O desejo até nos move interiormente. Mas é tão cômodo o formato redondo do "pauzinho do puleiro!". Assim sendo, nos limitamos àquele terreno pequenino, e se houver outros "pauzinhos" a gaiola se torna então um oásis. Ficamos pulando de galho em galho, mas dentro da gaiola. Inventando uma felicidade, que muitas vezes, sabemos que é falsa.
E nossas asas? Ah, essas não existem mais. São metáforas da alma desbravadora que ficou para trás; que perdeu-se com o homem sonhador e que agora não é mais necessária, uma vez que meu mundo é restrito (à gaiola).
E nosso olhar? Pergunto: para que ter olhos de águias se me bastam os olhos de pássaros? Com meu mundo restrito é impossível treinar minha visão para a luta. Meu horizonte é a parede branca da existência ínfima que traço todos os dias.
Dostoyevesky estava certo. O voo se dá no vazio, no espaço, na insegurança e na imprevisibilidade. Num mundo marcado pelo oposto, fica difícil lançar-se nesta dimensão da incerteza.
Poderíamos encontrar um meio termo? Nem tanto ao céu, nem tanto à gaiola? Creio ser saudável, afinal, ter um lugar para apoiar os pés é necessário... mas que eu não me conforme com ele. É preciso sentir-se incomodado em algum momento para poder deslocar-se em busca de novos apoios para os pés.
E para dar asas a esse desconforto impulsionador, a porta da gaiola, ops, da vida, não pode ficar fechada. Quem fecha a porta, ou deixa outro fechar, torna-se prisioneiro da própria insignificância. Voemos então, para alcançarmos grandes altitudes, mas tenhamos também um porto seguro, sem porta, para sairmos quando bem quisermos.
Arte: Amarildo
Dostoyevesky em: "Os Irmãos Karamazov" estava correto. Quem disse que somos livres? Queremos voar alto na vida, no entanto, tememos as imprevisibilidades do cotidiano.
Acostumamo-nos ao que é perene. A dúvida imposta pela incerteza do amanhã nos tira a capacidade de alçar novos voos. Queremos bater asas, mas preferimos o apoio desconfortável para os pés que se encontram nas gaiolas de nossas vidas.
Com o passar do tempo se acostuma. O pássaro esquece como é voar. Seus dedos ganham o formato do puleiro e a visão não consegue se lançar além das grades da gaiola.
Nós? Somos iguais. O desejo até nos move interiormente. Mas é tão cômodo o formato redondo do "pauzinho do puleiro!". Assim sendo, nos limitamos àquele terreno pequenino, e se houver outros "pauzinhos" a gaiola se torna então um oásis. Ficamos pulando de galho em galho, mas dentro da gaiola. Inventando uma felicidade, que muitas vezes, sabemos que é falsa.
E nossas asas? Ah, essas não existem mais. São metáforas da alma desbravadora que ficou para trás; que perdeu-se com o homem sonhador e que agora não é mais necessária, uma vez que meu mundo é restrito (à gaiola).
E nosso olhar? Pergunto: para que ter olhos de águias se me bastam os olhos de pássaros? Com meu mundo restrito é impossível treinar minha visão para a luta. Meu horizonte é a parede branca da existência ínfima que traço todos os dias.
Dostoyevesky estava certo. O voo se dá no vazio, no espaço, na insegurança e na imprevisibilidade. Num mundo marcado pelo oposto, fica difícil lançar-se nesta dimensão da incerteza.
Poderíamos encontrar um meio termo? Nem tanto ao céu, nem tanto à gaiola? Creio ser saudável, afinal, ter um lugar para apoiar os pés é necessário... mas que eu não me conforme com ele. É preciso sentir-se incomodado em algum momento para poder deslocar-se em busca de novos apoios para os pés.
E para dar asas a esse desconforto impulsionador, a porta da gaiola, ops, da vida, não pode ficar fechada. Quem fecha a porta, ou deixa outro fechar, torna-se prisioneiro da própria insignificância. Voemos então, para alcançarmos grandes altitudes, mas tenhamos também um porto seguro, sem porta, para sairmos quando bem quisermos.
Arte: Amarildo