SERIA POETA

Por ti não me agiganto, recado mudo

Mostra-te duro em paisagem de osso

Rajado seja teu sepulcro... minha ira;

Quisera ser o moço a interpretar Shakespeare...

Ainda seria vago;

Quisera ser o esgoto a decantar remexidos versos

Até nas nuvens, poder-se-ia entalhar seu leito

E eu haveria de entulhar esparsas cantigas

Com os mais remelentos e descarados verbos

Ainda assim, seria esmero;

Quisera escalar as asas do teu pecado e sorrir miúdo

Com as gengivas expostas à luz de suas trevas

Um beijo lançar-me-ia as algemas

Não me importaria!

Ainda assim, seria escravo

Dotado estaria de criações geniais cobertas de pó

Entre as tríades, alimentaria luxuosas escolas

Inventaria outros riscos de morte pálida

Ainda assim, teria o luxo

Por mais sulfuroso o teu estar em meu zelar

Ainda assim, seria poeta.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 11/06/2007
Reeditado em 17/11/2008
Código do texto: T522783
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