Dependente
Perdi a noção do tempo,
Não quis saber de emoção.
Não olhei pro relógio,
Nas vezes que eu acordava
Me aninhava quente o colchão.
Água água água
Toilet toilet
Meus ossos doem...
Meu Deus a pia está cheia desde sexta.
Mas 11 da noite do domingo
Tenho que descansar.
Faltar no trabalho não é de se perdoar.
Não quero um médico pra contar meu estado,
Ganhar um atestado e faltar.
Vou encarar.
Vou encarar.
Vou encarar meu chefe.
Olhar no fundo dos seus olhos,
Dizer que já mereço algum crédito
Pelos longos anos de casa.
Dizer que não dormi,
Não passei bem de madrugada,
Preciso repousar pra melhor contribuir.
E ele talvez repita ou não o seu jargão.
“O trabalho é o melhor repouso,
Pois ocupa sua mente.
Cabeça vazia: oficina do cão.
Seu mal é inerente ao ócio.
Vai por mim.
Vai por mim.
Tome aqui,
Tome aqui
Uma dose de café
E vai na fé
Terminar o que te pedi.
Para aí então,
Para aí então
Começar aquele outro.
E na sequência vai ter mais.
Você é capaz,
Confio em ti rapaz.”
Água água água
Café café
Toilet toilet toilet
Stress stress
Eu não aguento...
Meu mal é o ócio?
Meu mal é estar consciente
De que o sistema me moldou dependente.
Dependente de dinheiro.
Dependente de dinheiro.
Carente de vida.
Vou pro Himalaia gastar
Minha pouca economia, escalar
Alguns montes.
Quem sabe me ver de outro ângulo,
Escalando o Himalaia,
Saltando caindo de cara,
Filmando e assistindo minha cara,
Meus últimos instantes antes
De me arrebentar no chão.
Podem postar,
Podem postar
Se encontrarem o cartão.
Eu aposto que vão rir
À beça de montão.
Vergonha vai ser se não salvar.
(Se não salvar...)
Mas me salvar já terá valido.
Me levar daqui.
Não vou recobrar meus sentidos.
Aqui não.
Não aqui.
Carente de vida.
Carente de vida.
Dependente do dinheiro.
Dependente do dinheiro.
Dor dor dor
Sangue sangue
Luz
Luz
01/03/15