Não sei como inventar-te

Só, sonho-te e já não sei como inventar-te para além da obviedade dos dias como simples perfume a desaguar nos anseios meus. As noites me parecem lentas e tristes e a realidade existe como lança no peito, enquanto caminhas por horizontes outros que não os meus e teus olhos de maré vazante repousam sobre outras paragens e o meu olhar chora como um rio a tua ausência de mim. Não sei como inventar-te amor e minhas mãos são o avesso do infatigável, porque o tempo do ontem fenece no hoje na ausência de nós e o teu riso repousa em outros lábios carregados de fadiga e fé. E tudo, o mar, as marés, o som da tua voz e os caminhos de todas as coisas se esvaem no infinito como se tu fosses um estranho de mim e eu último poema, aniquilada e inundada de desejos sem leito de (a)mar, por sobre as margens do silêncio teu.