CIDADE QUE NÃO SE OUVE
Pequena explicação: Este texto foi escrito como poema, em algum ano da década de 1990. Na década de 2000, eu o transformei em prosa poética.
REPUBLICAÇÃO
FELIZ DOMINGO, AMIGOS
A voz de um anjo para silenciar teu silêncio, ventos uivantes calando quem és quem não és a sacudir, desde as raízes, a casa cravada numa curva da São Paulo impermeável a mistérios, a mistérios de cavernas, de sombras, de desertos, de cada um dos impossíveis de onde viemos, conchas de tempo para sempre ecoando, dias e mundos a esmo, meus pés pelo shopping e, refletido nas vitrines teu rosto, Heathcliff, para todos os que não te sabem o teu rosto, informatizado e cotidiano.
Meus pés lúcidos por onde os pensamentos e os olhos jamais. Bocas de vulcões, lavas invadindo a cidade visível para mais ninguém.
Quando eu voltar para casa, Edgar Linton, não temas. Continua a ler teu livro, imperturbável. És minha mãe, sabes que sempre volto, metade do meu tempo. Aqui, os dias nascem e se põem sem sobressaltos, se não estou à janela exposta aos ventos. Tu não verás Catarina, a delirante, com todos os seus cabelos desgrenhados; apenas verás Cathy e o pequeno Edgar, tranquilamente a navegarem na Internet. Não te esqueças de que amanhã é domingo e estaremos todos aqui, seguros.
A voz de um anjo para acalmar tua ausência nos nomes ossos glândulas nervos pele. Em ti, o louco, de poder por mim outorgado, o fogo de um deus das profundezas. Enquanto no romance tua estranheza inteiriça, monolítica, na livraria o autografas, irreconhecível.
Todos os ventos invadindo céus terras fogo entranhas águas. Do alto desta charneca eu, a ouvi-los, criaturas aladas sem qualquer leveza.
O anjo hesita, guarda a própria voz na garganta enquanto aguarda a impossível ordem de outro anjo, a anunciar a hora da libertação de Perséfone.
Meus pés lúcidos por onde os pensamentos e os olhos jamais. Bocas de vulcões, lavas invadindo a cidade visível para mais ninguém.
Quando eu voltar para casa, Edgar Linton, não temas. Continua a ler teu livro, imperturbável. És minha mãe, sabes que sempre volto, metade do meu tempo. Aqui, os dias nascem e se põem sem sobressaltos, se não estou à janela exposta aos ventos. Tu não verás Catarina, a delirante, com todos os seus cabelos desgrenhados; apenas verás Cathy e o pequeno Edgar, tranquilamente a navegarem na Internet. Não te esqueças de que amanhã é domingo e estaremos todos aqui, seguros.
A voz de um anjo para acalmar tua ausência nos nomes ossos glândulas nervos pele. Em ti, o louco, de poder por mim outorgado, o fogo de um deus das profundezas. Enquanto no romance tua estranheza inteiriça, monolítica, na livraria o autografas, irreconhecível.
Todos os ventos invadindo céus terras fogo entranhas águas. Do alto desta charneca eu, a ouvi-los, criaturas aladas sem qualquer leveza.
O anjo hesita, guarda a própria voz na garganta enquanto aguarda a impossível ordem de outro anjo, a anunciar a hora da libertação de Perséfone.