Precata véia
Um sertanejo de muitos anos
Caminha pela estrada
Com o chapéu aba larga e suor no rosto
Tem nos lábios o pito de paia.
Dentes estragados e muitas rugas
Tudo é sinal de luta e busca
Ele anda apressado com roupas rudes de algodão
Para chegar ao seu rancho de sapé beira chão.
O rancho é simples e cheira a sapé velho
Um pote de barro contem água fria
Na prateleira pobre estão as latas
Dentro delas carne com gordura, farinha e doce.
O sertanejo senta no banquinho de pau
Enrola o fumo cortado na palha de milho do paió.
Bate a lima na pedra e a isca pega fogo
Apoja no seu pito e bafora fumaçadas de paixão.
Ele contempla a cumeeira do rancho betumada de picumã
Dentro a mulher parideira com seus muitos filhos
Um cachorro velho com bernes espera esquálido pela comida
Os porcos lameados dormem debaixo da mangueira
Aquele é o mundo do velho sertanejo
O fogão no girau é barreado de branco com argila da vereda
Acima do fogão muitas coisas estão penduradas
Carne seca, lingüiça e o fel da última vaca morta
A panela preta de barro se esquenta com a lenha que queima
Os meninos barrigudos e quase pelados correm de um lado a outro
Alguns anêmicos e magricelos comem pequenos torrões de terra
A mãe os obrigam a tomar gotas de creolina no café pra matar lombrigas
O mundo é mítico e a supertição é grande, Dona Chandoca é a benzedeira
O sertanejo é gente pura e de grande sofrimento
Canta moda caipira e têm muitos cumpadis
A fé singela se traduz em rezas pra chover e também pra estiar
Parece ver Deus muito perto de si e nas simples coisas da vida
Quem quiser saber como é ser sertanejo uma coisa tem que saber
Ser humilde e preparado para o sofrer
Isso só não basta pois precisa outra coisa fazer
Andar três dias de precata veia sem padecer.