Olhos de Gueixa
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Quando o dia rasgou a noite no instinto absoluto e pleno, assim como as aves com seus pios a procura de alimentos, nasceu o sorriso largo da moça de olhos puxados. Correu descalça até o jardim do Éden em busca daquela árvore que, de suas folhas em infusão, sairia o chá perfeito.
E com as maçãs do rosto bem coradas pelo sol de hélio e os seus amarelos raios em seus cabelos castanhos, já sentia a ternura daquele dia radiante. Ao ver a árvore de flores, folhas e frutos bem vermelhinhos, observou aquela coruja de olhos alaranjados, que, taciturna e bastante atenta, devolvia o olhar para os súbitos olhos enviesados da moça.
Estranhou a ave de hábito noturno naquela manhã de sol iluminado. Mas não ousou aproximar-se daquele lindo quadro. E a coruja na sua estática sabedoria a acompanhava. E assim como Palas Athena, a moça sorriu mais largo entendendo talvez a procedência daquele bicho vigilante com um tom sisudo. E ainda assim com um olhar mais glauco, caminhou para as folhas daquela que seria a origem do seu pecado.
E de quando em quando, ela se perde no olhar estático e vigilante da sábia ave, mas treme ao morder a polpa daquela fruta bem vermelhinha, fecha os olhos e ainda sonha pensando na raiz de todas as coisas desse mundo. E na vertigem que vagueia o seu instinto, à noite, prepara a infusão das folhas entregue ao próximo olhar de algum bicho.
Andreas Vollenweider - White Winds
(https://youtu.be/PXeJ4eQKQ8A)