Transmutação
Molhar-se na chuva até os cabelos se derramarem por entre silêncios a recolher poemas de ti pelas ruas, até o céu de chumbo prantear nossas lonjuras e curvar-se sobre o horizonte vestindo o mar de prata e o teu e o meu amor lamber as ruas à espreita de uma aurora tardia e nua. Molhar-se na chuva até verter a última lágrima do que restou dos nossos passos sempre em partida disfarçada de loucura e no prazer das avenidas escancaradas de indecência e rubor. Molhar-se na chuva pelos caminhos dos nossos corpos extasiados, até morrermos de cansaço e as gotas escorrerem por entre a pele e a madrugada despir a manhã vestida de paixão e ternura, até nos tornarmos o verbo e o medo e mergulharmos no princípio de tudo.