O TEMPO COPULA AS INTIMIDADES

Repito o que a experiência me confidencia, laconicamente. Não somos nós que escolhemos a Poesia. É ela quem nos escolhe, à revelia de nossas vontades. O Mario Quintana foi quem apontou sobre esta convivência da Poética com o poeta e vice-versa. Porque ela é mulher, silhueta vivificada. É necessário que aprendas a conviver com a análise critica e o fuxico que ela promove no espiritual frente à Palavra. O resultado estético será além do esperado, surpreendente. No entanto precisas estar maduro para acatar o resultado estético no teu poema – o transcurso do tempo vai atuar sobre o egocentrismo autoral inerente ao criar, em regra mais perceptível nos criadores novatos. Em verdade, leva tempo pra se conseguir fugir daquilo que é compreensivelmente egoico. Não há nada mais íntimo do que a Poesia, especialmente nos versos lírico-amorosos. Nesta especificidade, o autor registra – com sua codificação pessoalizada – o que nem sempre se pode revelar por inteiro, ainda que o desejasse. Apesar dos códigos no texto, o poeta sabe que nestes estão o revelar dos laços intimistas para com o eleito de seu afeto, naquele momento em louvação. Os códigos sempre subtraem, escondem, denunciam desejos, fatos e ações. O corpo (e seus quereres compulsivos) acaba denunciando o amor ardente que se esconde por baixo da palavra. A poesia é o lençol sobre ele, tão necessitado de tatuagens. Por vezes, o poema é o coito não concedido. – Abre-me o chacra em conchavo e me concede a penetração, ó Dama irrevelada, exclama o alter ego!

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014/15.

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