O ALERTA DOS SENTIDOS

A literatura bem pode ser o reino das absurdidades dos ególatras e dos aleitamentos para todos os cotidianos, quando o amar (ou o que se sente dele) fala a sua peculiaríssima linguagem de zelos e fados. Bom quando o leitor se enfeixa nessa aura de mistério e mergulha neste universo raro para os dias de viver. Tudo resulta numa proposta de recriação da vida, do sentir mais acurado e menos ávido de cobranças, nas relações entre enfados e perdições que necessariamente vemos representados no plano do psiquismo. Não há porque nadar contra a correnteza dos domínios, da possessão e das caras feias frente ao Outro. A Poética nos dá esta opção: ser feliz com o que se cria além do Criador. A matéria com que se lida não é a mesma porque antes era o Nada, o niilismo das coisas, dos fatos e de seu autor. O Absoluto propôs mais do que simplesmente o "mens sana in corpore sano" dos guerreiros romanos. A loucura da eventual amada pode ser fator de reconstrução em si e no elo perdido dos afetos. Viver-se nesta corda bamba é a condenação cotidiana. Eu prefiro morrer a cada vez que o amor vem, porque ele me salva do devir. E o dia seguinte guarda o perfume da flor. Que venha o que tiver de vir: o Absoluto a me ampara no que sou de criatura. E me transcende para além do nada que realmente sou. Como a sombra boa do que não desejo que se perca. Agradeço a interatividade com os meus afetos. Assim pensa quem ainda acredita que o amar é a festa dos sentidos. E me lambuzo de mel no corpo todo. Assim, a amada curte meus desígnios. Ela se fortalece no poder do sexo e na libertação de todos os infernos que vivem sob a sua epiderme. E na minha...

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014/15.

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